Visitar a China

  Partiu o viajante para o extremo oriente com uma apreensão que já há muito deixou de ter nas vésperas de viajar: apreensão pelo desconhecido, pela dificuldade de lidar com a diferença, pelo bloqueio linguístico, pela distância, física e geográfica, cultural e civilizacional.
Porém, em geral, os mais básicos receios não se confirmaram. Aliás, já assim tinha sido na preparação da viagem: foi fácil e expedito obter o visto de entrada, na Embaixada da China em Lisboa (recorda bem o viajante o pesadelo que foi obter o da Rússia, ainda não há muito). Por outro lado, as marcações e reservas, à distância, mesmo sem apoio local, foram eficazes. Do lado de lá do mundo, por email, veio rapidamente sempre resposta tranquila para tudo.
  Ficam, porém, duas notas importantes: a primeira, quanto à dimensão do país e de tudo o que nele cabe; a segunda, para a diferença de conceitos e de referências.
Quanto à dimensão, é óbvio o tamanho gigantesco, quase fora da escala humana, do país mais povoado do mundo (e o terceiro em extensão geográfica, apenas menor que a Rússia e o Canadá).
Na China tudo é de enorme dimensão e em enorme quantidade. Há sempre muita gente em qualquer sítio e em qualquer ocasião. Até por isso, ficou clara no viajante a ideia de que para este país, cada pessoa, em si mesma, conta pouco mais do que um número, em mais de mil milhões deles.
  No que respeita às referências, em geral, os chineses têm as deles bem vincadas. A China esteve completamente fechada ao mundo ocidental (e não apenas ao mundo ocidental, mas mesmo ao mundo exterior à China, em geral), durante muitos séculos e apenas desde há três décadas foi permitido ao povo chinês começar, gradualmente e muito devagar, a perceber que há outras formas de viver e de ser.
  Os chineses chegam sempre antes da hora marcada e são disciplinados e obedientes. As hierarquias são um valor absoluto e incontestável. Por outro lado, embora se note um espírito afoito e despachado, de quem quer ser eficaz no seu trabalho, é bem evidente que não existe espírito crítico nem muito menos sentido de humor. Sobretudo esta falta absoluta de sentido de humor cria barreiras e produz choques.
  Os chineses não são hostis aos estrangeiros, mas são intransigentes com quem desrespeita as suas regras. Falam muito alto, para se fazerem impor e não hesitarão em insultar nem em descompor aqueles com quem têm divergências. Ficou, a esse propósito, o viajante, na memória, com as vozes estridentes muito marcadas dos discursos públicos.
Queria o viajante ter actualizado estes cadernos de viagem e não conseguiu: os blogs são proibidos na China, tal como o Facebook ou o Youtube: todas estas realidades internéticas estão tecnicamente inacessíveis, por meio de uma operação tecnológica que os informáticos já apelidam de “Great Firewall of China”.
Não tinha o viajante a noção de que em 2010 visitaram a China mais de 55 milhões de visitantes (sobretudo sul-coreanos, japoneses, russos e norte-americanos).

Comentários

pv disse…
Muito obrigado pela visita.
Na China não me exigiram nenhum tipo de vacina, nem eu a levei.
Volte sempre.

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