Capela do Monte, Barão de São João, Algarve

Acredita o viajante que os grandes génios se manifestam, mais do que em grandes obras, em pequenos nadas. E viu esta convicção reforçada na visita à Capela do Monte, uma singela e inusitada construção, ali para os lados de Lagos, no Algarve.
É um edifício muito pequeno, que alberga muito poucas pessoas. Quando muito, umas dezenas – escassas. Aliás, tem apenas pouco mais de uma dúzia de lugares sentados. Mas a sua dimensão maior está em tudo o que lá está construído ou instalado. Tudo foi muito bem pensado e realizado. Vê-se que nada foi desleixado ou fruto do acaso. Há sentido e significado em todos os pormenores, o que ainda se valoriza mais num edifício religioso.

O espanto está no facto de esta capela ter sido projetada por Álvaro Siza Vieira, agnóstico. Bem recorda o viajante uma mesma fantástica experiência, na visita à célebre Catedral Metropolitana de Brasília, projetada por Óscar Niemeyer, que era igualmente ateu e comunista.
Apenas se pode chegar a pé, por um caminho de cabras, de difícil acesso a veículos automóveis. O caminho tem pois que significar esforço pessoal. 

Por fora, o cimento nu, de tom bege. Contaram ali ao viajante que as paredes, de cimento e areia sem revestimento, foram construídas com areia escolhida de entre 17 amostras da região. A ideia foi escolher o tom que melhor encaixasse na paisagem.
Dentro, um paralelepípedo de um só piso, sem instalação elétrica, aquecimento ou água corrente. A ventilação é feita recorrendo a pequenas aberturas, por onde passa o vento, que arrefece no verão e aquece no inverno. Os móveis, únicos e muito escassos (uma cruz, o altar e alguns bancos e cadeiras), foram desenhados igualmente por Siza Viera e executados pela carpintaria Serafim Pereira Simões, no Porto. Foi também Siza quem desenhou dois ou três murais com cenas evangélicas (em painéis de azulejos produzidos pela Fábrica Viúva Lamego).

A Capela do Monte insere-se num projeto que pretende vir a ser um centro espiritual de retiros, ecuménicos e de iniciativa privada, impulsionados por Matthias Stiefel e Rebecca Irvin, de origem suíça e norte-americana, que vivem no Algarve desde a década de 1980. Foi concluída e abriu em março de 2018.
Antes disso, um trabalho de dois anos, de escolha do local (o mais elevado, numa propriedade de colinas, sobranceiras a Lagos). A seguir, o convencimento do arquiteto – que terá anuído porque não tinha ainda nenhum trabalho no Algarve e, sobretudo, porque lhe foi permitido desenvolver um projeto de arquitetura puro. 

Esta capela não tem ainda serviço religioso. E a visita tem que ser agendada (apenas no primeiro sábado de cada mês). Quanto o viajante lá passou, era possível combiná-la na página da capela na Internet (http://www.capeladomonte.org/).

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