Parque Nacional de Ordesa e Monte Perdido, Pirenéus, Espanha

Ordesa e Monte Perdido, em Aragão, são duas referências míticas para os montanhistas dos Pirenéus. Talvez pela paisagem majestosa e inóspita. Ou então por ser uma das zonas de montanha melhor preservadas da superpovoada Europa. Por ali, as montanhas são recortadas e altivas, com pendentes escarpadas e íngremes; abundam densos e frondosos bosques de coníferas, faias e bétulas.

Entrou o viajante na montanha por Torla, povoado de postal ilustrado, a mais de mil metros de altitude, de casario de xisto cinzento, a contrastar com os picos verdes e brancos dos Pirenéus, ao fundo. A entrada para o Parque Nacional pode igualmente fazer-se por Añisclo, Escuaín ou Pineta. Mas Torla é a entrada mais popular e mais concorrida, por ser a que tem mais infra-estruturas de apoio; desde logo, a estrada de acesso, a partir de Jaca, a um pouco mais de 50 km, é óptima.
Torla tem uma arquitectura típica de montanha – casas de pedra, com pequenas aberturas, cobertas de telhados de xisto. No meio, sobressai a igreja do século XVI, com a sua elegante torre. A terriola está cheia de lojas, bares, restaurantes e hotéis baratos. Nas suas ruas circulam turistas, que se preparam para subir a montanha, ou acabaram de vir de lá. Aliás, a economia local vive disso.

Este ambiente faz de Torla uma boa base para preparar a expedição à montanha e, em particular, ao vale de Ordesa, vale glaciário com paredes rochosas de 400 metros de altura, que constitui o coração do Parque Nacional de Ordesa e Monte Perdido. É também de Torla que partem os autocarros oficiais autorizados a passar a Puente de los Navarros e a atingir o parque de estacionamento de La Pradera, junto do Rio Arazas (a 3 km de Torla), de acesso condicionado no verão – é mesmo proibido o trânsito a veículos privados.
Daqui, só se pode prosseguir a pé. Fez o viajante seu o objectivo da generalidade dos turistas que por aqui vêm: o Circo de Soaso, no topo do vale, para onde se despenha a famosa queda de água da Cola de Caballo, ou Cauda do Cavalo. Mas optou por percorrer a Senda de los Cazadores, uma forte pendente de 2 quilómetros de subida íngreme, de partir as pernas mais duras. Este sendeiro, que levou duas horas bem contadas a vencer, conduz ao topo de uma das paredes laterais deste vale glaciário. Daqui em diante, o percurso até ao coração do vale é muito mais fácil e passa por miradouros de cortar a respiração – só eles valeram o esforço da subida e até mesmo a expedição.
O Circo de Soaso, no topo do vale, a 1700 metros de altitude, é um enorme anfiteatro despido, de paredes muito verticais, de onde cai a cascata da Cola del Caballo. A sua água vem das vertentes do Monte Perdido e alimenta, mais abaixo, no curso do Rio Arazas, as Gradas de Soaso, uma sucessão de plataformas na rocha do leito do rio, em degraus, pelas quais corre o Arazas formando cascatas.
Levou o viajante cerca de seis horas a atingir o Circo de Soaso e a regressar à base, em La Pradera. Mas o regresso foi muito mais rápido, pelo caminho dos turistas, ao longo do rio: é um caminho do tipo florestal, largo, com muitos caminhantes. Desta caminhada acessível, guardou na memória paisagens deslumbrantes, de montanha selvagem e majestosa.
O Parque Nacional de Ordesa e Monte Perdido foi criado em 1912 e ampliado em 1982 e atrai anualmente milhares de turistas. Fica na Comunidade de Aragão, em Espanha. Por estrada, dista de Lisboa cerca de 1200 quilómetros.

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