Mosteiro de Lorvão, Penacova

Há poucos sítios onde o viajante se tenha sentido tão deprimido e oprimido como no lugarejo de Lorvão, a pouco mais de uma dezena de quilómetros a norte de Coimbra.

Talvez a má impressão inicial resulte de a zona ser muito acidentada e de ocupação humana desordenada. Além do vale do Mondego, que corre preguiçoso no seu vale arborizado, há por aqui vários córregos que percorrem vales fundos e muito vegetados. Em tempo, supõe-se, terá havido muitos carvalhos, mas agora a paisagem é dominada por eucaliptos e acácias, que durante o mês de Fevereiro estão cobertas de flores amarelas. Nesta paisagem, não será fácil construir estradas e por isso a chegada a Lorvão é antipática, seja vindo do Mondego e de Coimbra, seja vindo de norte, da região do Luso e do Buçaco, pelo IP3: as estradas são estreitas, íngremes e cheias de curvas e contracurvas. Numa curva da estrada, surge a aldeia, encastoada entre morros verdes e arborizados. Por estar tão encaixadinha, parece que é mínima, reduzida a uma rua que acompanha o ribeiro que corre no fundo do vale.

A má impressão tornou-se desagrado e mesmo choque dentro da aldeia: desde o década de 1950 que o Mosteiro de Lorvão foi adaptado para hospital psiquiátrico, alojando duas centenas de pacientes. Boa parte destes filhos de um deus menor deambula pela povoação, tentado interagir com os transeuntes e em particular com os turistas que vão passando. Mesmo tendo bem presentes os valores da solidariedade e do respeito pela diferença, este autêntico banho de doentes, não é das experiências mais agradáveis.
O que salva a visita é o Mosteiro em si mesmo: uma parte das suas antigas alas foi anexada ao hospital psiquiátrico; é visitável a Igreja, o antigo claustro dos monges e as sacristias.
A igreja é grande e surpreende o desalentado viajante: barroco pujante, com uma só nave mas coroada por um zimbório. Mármores a revestir as paredes e várias figuras nos altares, quase todas elas introduzidas nas reformas do edifício no século XVII e XVIII.
Ao fundo, separado da zona de acesso do público por gradeamento, o cadeiral de coro, referenciado como o maior de Portugal. É espantoso e rico, todo esculpido em jacarandá preto do Brasil e nogueira.

A fundação do Mosteiro de Lorvão poderá ter resultado da evolução da paróquia sueva de Lurbane, do século VI, o que fará dele dos mais antigos da Europa. Porém, o estatuto e a dimensão que tem serão do século XIII, altura em que para aqui vieram D. Teresa e D. Sancha, filhas de D. Sancho I e netas de D. Afonso Henriques. Desde esta época o mosteiro passou a acolher freiras beneditinas, naquela que foi a primeira comunidade da ordem de Cister em Portugal.
É monumento nacional e tem visitas guiadas. Simbolicamente, o bilhete para adultos custa 1 €.
Está aberto de terça a domingo, das 9:00 às 12:30 e das 14:00 às 18:30. Não há visitas aos domingos, às 11h30, por haver missa.

Comentários

Laurus nobilis disse…
Fantástico!

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