Quinta do Vale Meão, Douro

Vale Meão é um nome mítico no moderno vinho português. Desde que surgiu, como unidade autonomizada da histórica casa Ferreirinha, afirmou-se como um dos nomes mais consistentes da produção enológica nacional. O néctar é de excepção e a marca é uma aposta sempre segura. É notável, para um nome que apenas surgiu em 1999!
Meão é o U formado pelo Rio Douro por alturas do Pocinho, qual enorme meandro (o número dois dos vinhos da casa chama-se precisamente Meandro). A quinta fica nas margens do rio, em zona de microclima, muito seco e quente no verão.


A nota histórica mais interessante sobre a quinta diz que esta foi a única verdadeira realização da lendária Ferreirinha, D. Antónia Adelaide Ferreira. De facto, esta emblemática Senhora do Douro, em seu tempo comprou muitas quintas; esta foi a única que construiu de raiz. Aqui não havia nada quando a Ferreirinha comprou o terreno, em 1877. Talvez seja por isso que a adega é enorme e tem uma traça marcada, de paredes de granito e telhado de vigamento de castanho. Igualmente enormes são os lagares, em granito, onde ainda se faz a pisa a pé do vinho.

Mas não se iludam os visitantes: para além dos centenários lagares de granito há outros equipamentos que tratam das uvas e do vinho. Hoje em dia, as uvas que entram na adega sofrem um choque térmico, para que sejam vinificadas à temperatura conveniente. Depois, são pisadas a pé, mas brevemente: logo de seguida são maceradas por um robô e conduzidas para cubas de inox, com temperatura controlada. Mais tarde os mostos serão colocados em cascos de carvalho francês novos, para que o vinho apure adquirindo o travo adstringente da madeira verde. Na quinta produzem-se vinhos tintos e vinhos do Porto.

Em visita à quinta passou o viajante pela adega e pela sala de provas. Mas também pelas vinhas, plantadas em declive suave mas com muita tecnologia. Terminou no edifício da quinta, construído no século XIX, com a traça de mansão senhorial, com capela.
A quinta e a empresa que a exploram têm estrutura familiar. O pater familiae é Francisco Javier de Olazabal, de origem basca. Quem faz o vinho é o seu filho Francisco, enólogo de profissão e residente na quinta. As relações públicas – e não só -, são asseguradas pela Luísa, que abandonou uma carreira na área das relações internacionais para se dedicar à quinta. Esta dimensão encantou particularmente o viajante, que no Douro já viu demasiadas propriedades pertencentes a bancos, companhias de seguros e outras multinacionais, que as compram e vendem ao ritmo da subida ou descida do euro face ao dólar.


A quinta do Vale Meão fica próxima do Pocinho, no concelho de Vila Nova de Foz Côa. É também contactável para a Rua das Macárias, 61, 4410-149 São Félix da Marinha. Por estrada, o acesso pode fazer-se pelo IP2, que vem de Macedo de Cavaleiros na direcção de Foz Côa. Nesse caso, a quinta fica a 10 minutos do Pocinho. De comboio (o acesso mais romântico) o acesso pode fazer-se a partir da estação do Pocinho, terminal da linha do Douro, que tem cinco ligações diárias a partir da Régua (quatro aos fins de semana).

Comentários

Laurus nobilis disse…
Foram pessoas como D. Antónia que fizeram o Douro como o conhecemos até há bem pouco tempo. Pena é que, devagarinho, tudo esteja a mudar, a começar pela forma como se orientam as videiras nas encostas, com os custos elevadíssimos que, a médio prazo, o Douro irá pagar!
garina do mar disse…
a viagem de comboio é linda! e um terminus destes é mais uma boa razão para a fazer ;)

mas é verdade que é uma pena estarem a acabar com os socalcos!! será melhor do ponto de vista da mecanização... mas, para além de darem cabo da paisagem classificada, qualquer dia a terra foi por água abaixo!!
Unknown disse…
Olá!!

Gostaria de saber como vc entrou em contato com eles pra agendar a visita, ou se apenas chegou lá diretamente... Obrigada!

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