Brasília e Niemeyer

No próximo dia 15 de Dezembro, Óscar Niemeyer completará 101 anos. O nome dispensa mais comentários biográficos e a idade e vivacidade, que tem confirmado na televisão, deixam o viajante cheio de respeito e parado no terreno. Mora em Copacabana, em cujos morros, segundo o próprio, o arquitecto do mundo nascido no Brasil se inspirou para encontrar as linhas curvas intermináveis que marcam a generalidade das suas criações.

Quando o tema de conversa é a capital federal brasileira, mesmo o viajante mais desatento pensa logo no génio de Niemeyer. É universal a imagem de alguns dos mais emblemáticos edifícios de Brasília. É o caso do Palácio da Alvorada, construído entre 1956 e 1958 para ser residência oficial do presidente da República, um dos mais emblemáticos da cidade e da carreira de Niemeyer. Impressiona a sua simplicidade e discrição. Recorda bem o viajante os vários edifícios da Praça dos Três Poderes, desenhada por Lúcio Costa, logo na elaboração do plano piloto da cidade e cheia de simbolismo. Está delimitada por três edifícios desenhados por Óscar Niemeyer: o Palácio do Planalto, onde funciona a Presidência da República, poder executivo, o Congresso Nacional, sede do poder legislativo e o Supremo Tribunal Federal, emblema do poder judicial. O Congresso, um dos modernos emblemas de Brasília, é um só edifício, com duas torres paralelas e duas cúpulas, de sentido invertido, encimando uma delas o Senado e a outra a Câmara dos Deputados. O Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal partilham o estilo, de arcos investidos e larguíssimas coberturas.

Porém, o edifício que mais marcou o viajante na sua passagem na capital do planalto foi a Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Aparecida, construída entre 1958 e 1971. A sua silhueta é ainda hoje motivo de especulação. Niemeyer é e era ateu, mas a igreja revela profunda compreensão da fé católica. Pretende quebrar com a tradicional traça das grandes catedrais, com escuras e compridas naves em frente de um altar. Pelo contrário, é vagamente arredondada e está inundada de luz, projectando-se para o céu. A entrada faz-se pela penumbra de um túnel, intimando à preparação para a meditação. Dentro, pendentes do tecto, estão os três arcanjos; antecedendo a entrada, no exterior, estão os quatro apóstolos evangelistas. Em poucas igrejas modernas encontrou o viajante tanta consonância entre a fé a sua representação. É notável, para uma igreja projectada por um comunista, numa cidade que pretendia servir ideais socialistas. Ficou o viajante com vontade de ver também a primeira grande obra de Niemeyer, curiosamente também um templo religioso: a Igreja São Francisco de Assis de Belo Horizonte, em Minas Gerais, também conhecida por Igrejinha da Pampulha, que pelas suas linhas não usuais ficou por muito tempo por benzer pela Igreja Católica.

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