Viajar para a Rússia

O longínquo norte da Europa oriental é um destino misterioso, pouco divulgado e fora das páginas das revistas de viagens que se vendem nos quiosques. Com excepção de rápidas excursões a São Petersburgo, a partir da Finlândia, não estão divulgadas viagens organizadas para o extenso território russo. Terá o viajante que preparar, ele mesmo, a aventura. Ou então recorrer a agências de viagem de vão de escada, frequentadas por emigrantes russos, que recorrem aos seus serviços para planear viagens para voltar ao seu país.
E a aventura começa ainda antes da saída de Lisboa, quando se tenta obter o visto de entrada no consulado da Federação Russa, na Rua Visconde de Santarém, 57, nas proximidades do Instituto Superior Técnico. Apenas está aberto às segundas, quartas, quintas e sextas, das 9h30 às 12h30, mas mal andará o turista se não chegar muito antes da hora de abertura. É que, fora da porta, com chuva ou sol, forma-se uma fila invariavelmente demorada que, quando muito, avança à razão de meia dúzia de pessoas por hora.
Não é fácil entrar no consulado à primeira. E depois disso, continua a não ser fácil obter o visto de entrada. Não é fácil e supõe várias dores de cabeça. Calhou ao viajante ir a Moscovo visitar uma instituição pública da Federação Russa. Só lhe foi permitido obter visto porque tinha recebido um convite da dita instituição (em russo, claro…). Se o não tivesse recebido, pura e simplesmente o visto não lhe era concedido: na Rússia moderna só se admitem aqueles visitantes que a Federação Russa quer admitir. No tempo dos soviéticos dizia-se que o rigor no controle da entrada de estrangeiros era necessário para que os miseráveis que viviam no ocidente da Europa não emigrassem todos para lá. Agora, não se sabe qual é a razão oficial.
Estando-se disposto a frequentar vãos de escada, pode sempre comprar-se um visto turístico a uma agência de viagens. Quem ganha com isso, não o sabe o viajante. A verdade é que cumprir as formalidades necessárias à viagem será difícil para quem viaje isoladamente.

A Rússia é um país enigmático mas simultaneamente romântico. Só aqui poderia ter acontecido a histórica do Dr. Jivago, tal como só aqui poderia ter tido real força o movimento bolchevique. Por outro lado, os russos são por definição burocráticos, com um inacreditável convicção. O país tem uma dimensão fora de toda a proporção, com um tamanho descomunal e 147 milhões de habitantes. Manifesta-se pelos extremos, até no clima, rigorosíssimo no Inverno. Tem uma história conturbada e brutalmente violenta, desde a idade média às chamadas depurações estalinistas, que eliminaram milhões de adversários do regime comunista. Moscovo é uma digna capital deste império, com majestosos edifícios públicos e degradadíssimos e infindáveis bairros de prédios habitacionais, onde vivem a maioria esmagadora e pobre dos seus 10 milhões de habitantes. Os russos, eles mesmos, justificam a reputação de ensimesmados, deprimidos e nada amigáveis. Em geral não se riem, porque o sorriso é sinal de idiotia ou menoridade intelectual. Só depois de os compreender percebeu o viajante alguns dos clichés associados aos antigos dirigentes dos países comunistas ou marxistas-leninistas, igualmente tidos, ao menos nos filmes da série 007, como frios, desprovidos de emoções e de sentido de humor. Porém, se se ignorarem as referências do passado recente e se tiver espírito aberto a novas perspectivas, a experiência russa pode revelar-se agradavelmente surpreendente.

Comentários

Anónimo disse…
Russia é um sonho de visita. De fato um país belo e enigmático.

Belissimas fotos.
pv disse…
Obrigado pela sua visita e pelo seu comentário.

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