Ilha Berlenga, Peniche

Atravessou, o viajante, o mar entre Peniche e o arquipélago das Berlengas, em dia claro de sol. Ao longe, logo após sair da barra de Peniche e depois de ter rodeado pelo sul a sua península rochosa, foi fácil avistar a ilha, com a sua cor encarniçada, dada pela proeminência do granito rosa.
Nestas condições, a chegada ao molhe de abrigo brindou o viajante com águas marinhas das mais bonitas de Portugal, de verde-esmeralda intenso e exuberante, límpidas e transparentes, a deixarem-se atravessar pelo sol que atingia o fundo de areia.


Mas isto nada significou - nem significa em geral -, quanto à bonomia da meteorologia na ilha. Na curta estadia, de meia jornada em tempo de verão, além do sol rutilante, agressivo e destemperado (não há sombras, na ilha), caiu nas orelhas do viajante uma chuva miudinha, trazida por um banco de neblina que aqui chegou, vindo do mar aberto. No mesmo dia, houve muito calor, chuva e muito frio, com poucas horas de diferença.
As visitas de turistas começam e acabam todas no molhe do Carreiro do Mosteiro, junto ao bairro dos pescadores, onde atracam os barcos que chegam de Peniche. A generalidade dos visitantes sobe o íngreme caminho cimentado até ao farol, na zona mais elevada da ilha, passando ao lado da magnífica paisagem do Carreiro dos Cações (desta espécie de fjord avista-se o outro lado da Berlenga e, ao longe, as Estelas). Os visitantes mais afoitos descerão o difícil trilho que termina na Fortaleza de São João Batista, rodeada de escolhos e pequeníssimas praias, banhadas por água verde transparente, muito limpa, onde se vêem peixes. Há sempre, claro, a possibilidade de contratar a viagem do molhe à fortaleza, utilizando os serviços de um pescador, vindo directamente pelo fotogénico Carreiro da Inês.
Na fortaleza há alojamento, bastante espartano e apoio de bar, um pouco melhor que o alojamento. Além disso, o velho edifício e a sua fantástica localização mais que justificam o percurso.
No entanto, o verdadeiro viajante não ficará por estes clichés turísticos. Poderá mergulhar nas águas costeiras, se souber e tiver como. Dizem que vale muito a pena. Ou então, de forma mais fácil e acessível, partirá para a exploração da Ilha Velha, nome que é dado ao extremo nordeste da Berlenga. Poderá assim ter os melhores panoramas sobre Peniche e o litoral que lhe fica a norte. Além disso, avistará melhor do que de qualquer outro lado as Estelas, a oeste e os Farilhões, a noroeste. No extremo norte da zona explorável, fora de zonas proibidas (sempre caminhando em trilhos marcados, portanto), poderá o viajante ver uma rara colónia de corvos marinhos, lá no fundo, junto ao mar, no Ilhéu Maldito.
Não deverá, no entanto, o viajante esperar encontrar a exuberância normalmente associadas às ilhas de águas verdes e quentes. A Berlenga é quase desértica, muito rochosa e desoladora. A única zona sempre verde é a envolvente do Carreiro do Mosteiro, quase completamente revestido pelo invasor e estranho cacto chorão. Quanto a bicharada, há que contar com a permanente, persistente e incómoda companhia dos milhares de gaivotas que povoam a ilha. Na época da nidificação, estas aves podem tornar-se mesmo agressivas e atacar, com voos rasantes, para defender os seus ninhos e crias. Além delas, dos corvos marinhos e das muitas lagartixas (há por aqui uma espécie endémica, conhecida como lagartixa de Bocage), não teve o viajante o engenho e a arte para detectar mais fauna. Sobretudo, não viu nenhuma pardela nem nenhum airo (a tal ave marinha com aspecto de pinguim, símbolo da Reserva).

Na Berlenga, há alojamento e um restaurante (Pavilhão Mar e Sol). Mas o mais recomendável, para uma visita de um dia, será mesmo levar merenda para piquenique. É possível acampar, se anteriormente se se fizer o pedido aos serviços da Câmara Municipal de Peniche.
O arquipélago das Berlengas (Berlenga, Estelas e Farilhões) integra a Reserva Natural da Berlenga e fica a cerca de 10 quilómetros ao largo de Peniche. Tem acesso por barco, em carreiras regulares, de Maio a Setembro. Recentemente, surgiram vários operadores que fazem a ligação em lanchas rápidas. Porém, a ligação mais tradicional e segura, feita duas a três vezes por dia, é a assegurada pela Viamar, no barco Cabo Avelar, de 180 lugares. A viagem de ida e volta custa 18 € (10€ para crianças até aos 12 anos). Pode ser reservada por telefone ou na página Web da Viamar (
www.viamar-berlenga.com). O barco parte do porto, junto do célebre forte de Peniche.

Comentários

O Comunicado disse…
Que lugar maravilhoso! Gostei do seu blog. Já coloquei em meus favoritos!

Grande abraço
pv disse…
Muito obrigado pela sua visita e pela simpatia do seu comentário. Até breve.

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