Mosteiro de Kyiv-Pechersk Lavra, Kiev, Ucrânia

O leste da Europa – e em particular o território anteriormente correspondente à União Soviética -, tem-se revelado ao viajante como uma caixa de surpresas. No passado, o acesso turístico a estas terras estava vedado. Desde logo, porque era impossível ir lá. Mas sobretudo porque sobre elas pairava um véu místico, de medo do KGB, do controlo militar e da asfixia exercida pela estrutura do partido comunista. Kiev, capital da Ucrânia, foi a terceira da União Soviética. Foi uma das suas cidades emblemáticas – foi até uma cidade modelo socialista.

Porém, já muito antes disso, a Ucrânia tinha sido um dos centros mais importantes da igreja ortodoxa aquando do grande cisma do ocidente. Foi da Ucrânia que a religião se expandiu para a própria Rússia. E, na Ucrânia, o coração da Igreja Ortodoxa foi o Mosteiro de Kyiv-Pechersk Lavra, actualmente no limite urbano de Kiev, a sul da cidade. O mosteiro foi fundado no século XI e é ainda hoje em dia um dos lugares mais santos da igreja ortodoxa. É mesmo o maior lugar de culto e peregrinação da Ucrânia. Terá sido fundado no ano de 1051, por monges que já aqui viviam, em grutas. Estas grutas ainda hoje em dia guardam as sepulturas, que são visitáveis, de monges.

Teve o viajante oportunidade de visitar um mosteiro restaurado, reluzente nas suas cúpulas, pintado e lavado. Porém, o mosteiro teve ao longo da história muitas vicissitudes, sendo por diversas vezes destruído. A versão actual é sobretudo resultado de obras do século XVII e de obras de reconstrução, após a segunda guerra mundial, na segunda metade do século XX. Durante o estalinismo o mosteiro foi gerido pelo Estado e só após a queda do comunismo e a declaração da independência de Ucrânia voltou a ter monges e a presença da Igreja Ortodoxa. Actualmente, funciona aqui um seminário e aqui reside o chefe máximo da Igreja Ortodoxa da Ucrânia.

O mosteiro é também património da Unesco e, achou o viajante, só ele já justifica uma visita a Kiev. A visita faz-se sobretudo às várias igrejas. Nelas, impressionaram o viajante as cúpulas douradas, em forma de cebola, que as coroam. Bem se vê que são recentes, muito polidas e brilhantes, mas nem por isso deixam de deslumbrar. De entre as igrejas sobressai a rica catedral da “Dormition” e a respectiva fachada decorada, restaurada recentemente, após muitos séculos de sucessivas destruições. É actualmente um panteão de ilustres ucranianos. Ao lado, merece visita o edifício do antigo refeitório dos monges, com igreja anexa. Também magnífica, achou o viajante, é a torre do campanário, com mais de 96 metros de altura e extensamente decorada. Quanto às outras igrejas, a de Todos os Santos, do século XVII, é das mais originais. E ainda se podem visitar a Igreja da Natividade e a Igreja da Exultação da Cruz.

O espaço é vedado e a entrada, com horário, é paga. Foi o viajante auxiliado na compra do bilhete pelo seu intérprete que talvez o tenha igualmente ludibriado na conversão para a moeda local. Normal… Evidentemente, nesta terra de escassíssimos turistas (e muito menos estrangeiros), o preço apenas está afixado em ucraniano (em caracteres cirílicos). E raras são aqueles que falam língua estrangeiras. Em todo o caso, há outras entradas, para além da principal, por onde entram os locais. Por aqui não se cobram bilhetes nem se limitam as visitas à entrada até às 5 da tarde. Além do bilhete é importantíssimo comprar também um guia com mapa, porque o recinto do mosteiro é grande e não há indicações para visitantes. O Mosteiro de Kyiv-Pechersk Lavra fica a cerca de 3 quilómetros do centro de Kiev. O acesso por táxi será fácil e não será caro. Também será fácil chegar em autocarro e há uma estação de metro a menos de um quilómetro. A pé, chega-se do centro em 40 minutos e o passeio é agradável, pelos jardins sobranceiros ao rio Dniepr.

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