Siena, Toscana, Itália

Conhecia, há muito, o viajante a fama do Palio de Siena, esse festival anual que se realiza em Maio, talvez a manifestação pública mais famosa de Itália. Chama a Siena milhares de pessoas que vêm ver uma corrida de cavalos que dura apenas meia dúzia de minutos. Essa corrida de cavalos, em que compete um cavaleiro por cada uma das nove paróquias de Siena, realiza-se anualmente na praça de Il Campo, no centro da cidade. É bem esclarecedor, quanto à sua dimensão planetária, o pormenor de ter já surgido como pano de fundo em parte de um dos filmes da série 007.
Não foi o viajante a Siena durante o Palio, altura em que esgotam os hotéis e as ruas pedonais do centro se tornam intransitáveis. Mas mesmo em época baixa, sentiu a grande pressão das hordas de turistas anglo americanos e japoneses que, ruidosamente uns e ordeiramente, em grupos, os outros, enchem cada rua e cada praça e cada palácio e cada igreja da cidade. Nessa medida, tal como Florença ou Veneza, Siena tornou-se um enorme parque temático, para turistas, com gigantescos parques de autocarros fora de portas e uma complexa rede de ruas fechadas ao trânsito, cheias de lojas que vendem coisas supostamente típicas da cidade.
Esta última vertente permitiu à população local soltar a sua iniciativa e criatividade, reinventado o “típico”. Há lojas especializadas em quase todos os ícones do “típico” italiano: lojas em que se vendem azeites com aromas, lojas de “pastas” eróticas e afrodisíacas, lojas de roupa muito específica. Passou o viajante por um “cravattificio” (seja lá o que isso for) que, pelo insólito, lhe ficou na memória… Neste contexto de centro comercial especializado, é difícil encontrar na cidade recantos tranquilos onde se respire o verdadeiro ambiente local.
Não obstante, não deixou o viajante de se deslumbrar com a finura do “Duomo”, a catedral gótica profusamente e exuberantemente decorada. Nem de apreciar Il Campo, com a sua arquitectura que constitui um dos melhores exemplos de gótico civil na Europa, dizem os guias. Ou ainda de ficar impressionadíssimo com os inúmeros e enormes palácios medievais, fortes e altos, com grossíssimas paredes e vários andares, a tornarem as estreitas ruas muito escuras.
Ao contrário de Florença, que evoluiu após a Idade Média, Siena parou no século XIV, altura em que se estima que tivesse cerca de cem mil habitantes. Nessa altura, a sua economia estava estruturada no comércio e na actividade financeira. Porém, esta economia não sobreviveu à grave crise provocada pela peste negra, que a partir de 1348 dizimou 7 de cada 10 habitantes de Siena. Pouco sobrou das várias estirpes de banqueiros, de ganadeiros e de ricos comerciantes e artesãos.
Não deixa de ser interessante anotar, no início de 2010, quase na ressaca de uma gravíssima crise financeira, com origem social, tal como aquela que abalou Siena no fim da Idade Média, que foi neste último período que teve origem o Banco Monte dei Paschi di Sienna, que desde o século XIV tem sede na cidade, nos palacetes da Piazza Salimberi (nome da família de banqueiros e negociantes de seda e cereais que lhe deu origem). Este banco, um dos mais antigos de Itália e da Europa, ainda existentes, foi originariamente fundado em 1472 como instituição de beneficência, emprestando dinheiro aos carenciados.
Siena, a segunda cidade da Toscana, fica a 90 quilómetros de Florença. A partir da a capital da região tem acesso por estrada e por comboio (regional, que demora cerca de uma hora).

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