Ria Formosa, Algarve


Bem sabe o viajante que o Algarve não existe: existem vários algarves ou, se se preferir, férias de verão no Algarve são como o Natal, como um homem quiser. Veio esta consideração a propósito de uma passagem pela celebérrima praia do Gigi, ou da Quinta do Lago, na costa algarvia, logo a seguir ao Ancão, entre Vilamoura e a ilha de Faro. Deixou o viajante de lado o passadiço para a praia e para o restaurante e optou por um caminho de terra ao longo da ria.


Neste limite ocidental do Parque Natural da Ria Formosa, formou-se ao longo dos milénios um longo cordão dunar que separa o mar da terra. Entre este cordão dunar e terra firme permaneceu uma zona alagadiça, de sapal, que enche com a maré. Este tipo de ecossistema, que ocupa uma orla costeira de cerca de 60 km, desde a Praia da Manta Rota, a leste, até à socialissima praia do Ancão – ou do Gigi, como é conhecida pelas tias, forma o sistema lagunar da Ria Formosa, composto por todas estas lagunas separadas do mar por um comprido cordão de ilhas de areia, que se dispõem paralelamente à costa. No seu interior vive um grande número de espécies de fauna, sobretudo aves e anfíbios, porque grande parte da área do Parque Natural está permanentemente inundado ou sujeito ao efeito das marés, formando vastas zonas de sapais. É aqui que nidificam espécies de aves que migram para cá no inverno, vindas do Norte da Europa e no verão, vindas de África. É também por aqui que é ainda possível ver exemplares de camaleão, que se diz estar praticamente extinto na Europa.



Voltando à Quinta do Lago, procurou um viajante um percurso pedestre, de descoberta dos habitats da zona, delimitado, de um lado, por um campo de golfe e de outro pelo sapal. Este caminho, identificado como trilho de São Lourenço, com 3.200 metros de comprimento, faz-se em meia hora para cada lado e permite descobrir o sapal e as suas aves e caranguejos, a ria, onde se encontram por vezes apanhadores de amêijoa e berbigão, os movimentos das marés e as aves marinhas.

Mas o ponto mais interessante do percurso são as casinhas de observação de aves. Uma delas está virada para a laguna dunar delimitada pela ria e a outra está virada para o interior e as lagoas de água doce, muito alimentadas pela regra e nutrientes do campo de golfe. A casa da ria permite observar aves marinhas. Foi interessante, mas não logrou o viajante ver nada de extraordinário: garças-brancas, garças-reais, pilritos, pernilongos e alfaiates. Já do outro lado, na casa da lagoa de água doce, a avifauna é muito mais rica. Consegui o viajante ver com abundância vários tipos de patos, mergulhões-pequenos, galeirões, galinhas de água. Foi mais fugaz a passagem em voo rasante de um guarda-rios, com a sua penugem colorida azulada. Mais ao longe, entre os juncos, avistou ainda o viajante um camão (porphyrio porphyrio), ave que se diz ser muito rara e que, em todo a Europa apenas é possível de aqui.
Admite o viajante que no Outono e no Inverno, quando chegam as aves migrantes, a densidade e diversidade seja maior. Mesmo assim, nesta visita de Agosto, as espécies que foi possível identificar já valeram a visita.

O percurso começa no parque de estacionamento da praia da Quinta do Lago. Chega-se lá, a partir da Via do Infante, derivando para Almalsil e, daqui, para Vale do Lobo. Depois, para a Quinta do Lago, que é necessário atravessar toda até à praia.

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