Maurício, a ilha de todas as cores

 Como ideia geral, a ilha Maurício causou no viajante a impressão de ser uma espécie de antecipação histórica da aldeia global, aglomerada nesta isolada paragem do Índico ainda antes do sociólogo canadiano Marshall McLuhan ter criado o conceito. Na verdade, vários povos ocuparam, apenas desde há cerca de 5 séculos, uma ilha paradisíaca onde antes não vivia ninguém. E desde então, todos têm vivido ali em conjunto. São de diferentes etnias, oriundos de diferentes continentes, professando diversas religiões, mas dão-se bem entre eles.
De facto, na ilha Maurício, indianos (hindus e tamiles), crioulos e brancos (católicos) e paquistaneses (muçulmanos) partilham uma ilha superpovoada, mas onde vai havendo riqueza para todos.

 Claro que, pelo caminho, quase desapareceu a vegetação endémica da ilha, para ser plantada no seu lugar, de forma intensiva, cana-de-açúcar, o sustento económico tradicional e histórico de quase toda a população. Por outro lado, depois do dodó (o castiço passaruço que foi sendo caçado até ser dado como extinto, a bem dos estômagos dos marinheiros holandeses que aqui aportaram no século XVIII) há hoje em dia outras espécies, sobretudo marinhas ameaçadas pelo incessante crescimento do turismo, que já ultrapassou em muito o açúcar como fonte de receitas da ilha.
Apesar disso, os maurícios são gente alegre e simpática. Claro que já descobriram que os turistas podem dar-lhes dinheiro a ganhar. Têm por isso razões para os tratar bem. Mas, ao contrário de outros povos que o viajante tem conhecido (por exemplo o italiano ou o egípcio), não deixam de ser simpáticos quando percebem que não vão fazer negócio. Pelo contrário: em geral esforçam-se mesmo por agradar e fazem-no de uma forma genuína.



 Não deixou o viajante de pensar, quando passou pela ilha, que nesta hospitalidade sincera estava a marca genética dos portugueses, que foram os primeiros humanos (que se saiba) que pisaram a ilha. O navegador português Pedro de Mascarenhas terá chegado à ilha entre 1503 e 1507. Aliás, o arquipélago de que a Maurício faz parte, conjuntamente com a vizinha Reunião e com a longínqua Rodrigues, ficou desde então baptizado como “Arquipélago das Mascarenhas”. Quanto à ilha propriamente dita, deram-lhe os portugueses o nome de ilha do Cisne, com o qual terão achado parecido o agora extreminado dodó.
Porém, este baptismo lusitano rapidamente foi substituído. Metade de um século depois os holandeses vieram ocupá-la a ilha e, em homenagem ao seu regente, Maurício de Nassau, passaram a chamá-la Ilha Maurício.

 Além de comerem os dodós todos, os holandeses trouxeram também a cana-de-açúcar. E com ela tiveram que vir os escravos africanos, para trabalhar na sua plantação, na colheita e nos engenhos. Depois da abolição da escravatura na Europa, os donos das plantações da ilha, entretanto ocupada pelos ingleses, viraram-se para a Índia e passaram a recrutar trabalhadores livres, que aqui acorreram com as suas famílias.
E assim se povoou, com população colorida, esta ilha antes deserta, onde agora vive mais de um milhão e duzentos mil habitantes, numa pequena área de apenas 1.800 quilómetros quadrados.
Além do colorido das gentes, das suas religiões e roupas, a Ilha Maurício é também uma ilha colorida pela sua natureza. Surgem flores por todo o lado, durante todo o ano, sobretudo amarelas e vermelhas. Além das flores comuns, há árvores muito floridas – é o caso da flamboyant, a exuberante árvores de flores vermelhas, típica da ilha.

Mas, a Maurício é ainda colorida nas línguas que fala. Todos aqui falam crioulo, derivado do francês. Falam crioulo entre eles, em casa, entre amigos, independentemente da sua etnia ou religião. Mas se a conversa envolver um desconhecido, ou se for formal, ou profissional, então será em francês. Não será assim se o contacto for escrito (num email, por exemplo, ou num requerimento a uma entidade pública). Nesse caso usado o inglês, a única das três que é qualificada como língua oficial. Da mesma forma, na estrada, os sinais de trânsito têm texto em inglês, mas os nomes das localidades são franceses, tal como estão escritos em francês os anúncios comerciais, na beira da estrada. Apesar disso, a circulação faz-se à inglesa, pela esquerda. Mas as informações diárias sobre o estado do trânsito são transmitidas na rádio em crioulo. Tudo com muita tranquilidade…
A Ilha Maurício fica no Oceano Índico, a 3000 quilómetros de Moçambique. É pequena (de norte a sul a distância máxima é de 63 quilómetros e de leste a oeste é de 47 quilómetros). Tem voos a partir de Paris (diários) e de Londres (4 vezes por semana) que normalmente fazem o percurso para lá durante a noite e regressam logo de manhã, chegando à Europa ao fim do dia (o voo durará 11 a 12 horas). É um destino turístico muito procurado pelas suas praias de águas coralinas, verde-esmeralda e pelo seu interior, com natureza pouco explorada. O clima é bom, com tempo agradável durante todo o ano, mas em Janeiro e Fevereiro chove muito.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Castelo de Noudar, Barrancos, Portugal

Monsaraz, Alentejo

Da Casa Branca a Cuba, de comboio