Istambul, Turquia

Será um chavão dizer que Istambul é uma cidade europeia com um pé na Ásia. Ou então, talvez, que é uma cidade asiática que se instalou na pontinha oriental da Europa. Ou então, ainda, que é verdadeiramente o resultado de uma diluição centenária de culturas, umas nas outras. Para além dos clichés, dela ficou o viajante com a impressão de ser uma cidade única, com estrutura claramente europeia mas alma oriental: é uma metrópole de grandes avenidas e organização pensada, mas a sua imagem dominante – aquela que fica na retina e nas objectivas das máquinas fotográficas -, é a das lojas e bazares coloridos.
Com este cadinho de histórias e civilizações, não consegue o viajante esclarecer no seu espírito qual é o sentimento essencial que lhe deixa Istambul. Recorda os palácios monumentais, em pedra bem trabalhada, sobretudo no bairro dito novo, construído a partir do século XIX na antiga colónia genovesa, em volta da Torre de Gálata. Mas também não esquece as vielas do bairro de Tahtakale, próximo de Eminonu e do Bazar Egípcio, em piso tosco, por onde ao fim do dia escorre a água das lojas que são lavadas à mangueirada.
A enorme e moderna Praça Taksim poderia facilmente confundir-se com qualquer praça de qualquer país do sul ou do leste da Europa. Tem um ambiente desordenadamente cosmopolita, multicolor, com o ar cheio dos pregões dos vendedores ambulantes, de flores e castanhas assadas, sobretudo. Os transeuntes passam por aqui apressados, em direcção à Istiklal Caddesi, uma rua pedonal muito comercial, por onde circula um típico eléctrico, como os de Lisboa, sempre apinhado de gente. Este é o bairro de Beyoglu, onde ainda há imensas reminiscências do tempo em que Istambul era a capital da Turquia – aqui ficam ainda algumas antigas representações europeias (consulados antigos, ainda em funcionamento) e igrejas cristãs, de comunidades estrangeiras. É bem conhecido e representativo deste ambiente europeizado o Palácio Dolmabahçe, construído por ordem do sultão Abdul Mecit, em meados de mil e oitocentos. A obra foi tão cara e o resultado tão sumptuoso que quase levou o país à falência – e terá até precipitado os movimentos republicanos, que vieram a culminar com a instauração da república laica, nas primeiras décadas do século XX.
Na zona mais turística – o eixo que une os iconográficos monumentos conhecidos em todo o mundo (o Palácio Topkapi, a Mesquita Azul e a Santa Sofia) com o Grande Bazar, há mais turistas que turcos. Há restaurantes de néones coloridos, como no Algarve, na costa grega ou no sul de Espanha. Talvez sejam um pouco mais genuínos e talvez tenham um pouco mais de cor local.
Já no bairro que envolve a Mesquita de Süleymaniye, na descida para a Praça de Emïnonü e a Ponte de Gálata, o ambiente é asiático profundo, com estreitas vielas cheias de lojas para habitantes locais. Nesta zona onde não circulam estrangeiros, o ambiente parece o de uma aldeia grande – por vezes, a rua chega mesmo a ser de terra batida.

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