Museu Egípcio, Cairo, Egipto

 Quando, secretamente emocionado, o viajante viu ao vivo a máscara funerária de Tutankhamon, ocorreu-lhe que muito maior terá sido a emoção do arqueólogo americano Howard Carter quando a descobriu, no Vale dos Reis, em 1922. Sobretudo, porque esta máscara foi encontrada no seu lugar, intacta, na câmara funerária do próprio faraó, conjuntamente com um incomensurável tesouro e muitos outros objectos utilitários e de adorno. No Museu Egípcio do Cairo guardam-se 1700 peças provenientes do túmulo de Tutankhamon. Quanto à máscara, feita de 11 quilos de ouro e decorada com outros materiais preciosos é uma peça impressionante. É aquela a que é dado mais destaque em todo o Museu Egípcio. Anotou nela o viajante um olhar vago, quase distante e vazio. A cara retratada, supõe-se, é a do próprio faraó. Aliás, assim acontecia com todos os faraós: as máscaras retratavam o mais fielmente as suas caras, para que na outra vida as suas almas reconhecessem com facilidade os seus corpos.
 O Museu Egípcio fica em pleno centro do Cairo, muito próximo do Nilo, na Praça Midan Tahrir, onde no recente inverno milhares de pessoas se manifestaram até derrubar do poder o presidente da república de havia 30 anos. As autoridades planeiam transferi-lo muito em breve para um novo edifício, próximo de Guiza (a que os portugueses chamam Gizé). Porém, sobre esta “brevidade”, qualquer habitante do Cairo esclarecerá que há mais de 10 anos que está para breve a transferência. Por isso, para já, este museu centenário, que abriu as portas em 1902 (e não parece ter tido, deste então, remodelações significativas), apresenta-se muito antiquado, com um estilo muito desajustado ao que se espera hoje em dia de um museu de prestígio internacional. Pareceu ao viajante um daqueles clássicos museus dos livros do Tintim, com muitas peças expostas em pedestais e outras tantas em armários de madeira, com portas envidraçadas. Muito poucas das peças expostas têm legendas ou estão identificadas. Os expositores estão em salas muito altas e desconfortáveis, pouco iluminadas, atulhadas de armários e caixas onde se acotovelam peças e mais peças. Dizem os guias que a colecção do museu inclui mais de 100.000 peças de arte egípcia, embora apenas estejam expostas 12 mil delas. Esta aparente desorganização contribui, seguramente, para o desaparecimento de algumas das peças ali guardadas, durante a revolução do início de 2011.
 Não obstante, o visitante gostou da visita do museu. Aqui encontrou o enorme colosso de Akenaton, o faraó que teve como esposa principal a rainha Nefertiti e o colosso de Amenhotep III (a que os portugueses chamam Amenófis). Também estão no museu as ricas estátuas de Rahotep e Nohet, príncipes do Egipto (Rahotep era irmão do faraó) e a fantástica estátua de Ka-Aper, conhecido pelos guias turísticos como “o presidente da Câmara”. Esta estátua, do Império Antigo, em madeira, é notável pela expressão da sua face e pela profundidade do seu olhar: os seus olhos têm um contorno de cobre; a zona branca do olho é feita de quartzo e as córneas de cristal de pedra, transparente e perfurado, tendo sido recheado, no seu interior, com massa preta para imitar a “menina do olho”.
Por outro lado, a sala das múmias, é toda uma experiência, que provoca sentimentos muito difíceis de descrever. Estão expostas várias múmias, de outros tantos faraós, em estado de conservação fantástico, para a idade. Na prática, são todos eles cadáveres com mais de 3000 anos. É notável a complexa técnica de embalsamamento, desenvolvida pelos antigos egípcios, que permitiu que estes faraós “sobrevivessem”, embora mortos, durante três milénios. Talvez a mais impressionante delas seja a múmia de Ramsés II, que foi descoberta no fim do século XIX.
O Museu Egípcio está aberto das 9 às 18 horas, mas os guardas gostam de antecipar o cumprimento do horário do encerramento, expulsado os visitantes, bastante antes da hora do fecho. O bilhete custa 60 libras egípcias, mas a visita da sala das múmias reais exige um bilhete adicional de mais 100 libras – cerca de 12 euros.

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