Cidade do México

 A grande impressão que reteve o viajante, ao aterrar na capital deste país de mais de um milhão de quilómetros quadrados (doze vezes maior do que Portugal) e de 120 milhões de habitantes, foi a de um mar de luzinhas a piscar na noite. Na megalópole que é a cidade do México vivem 15 milhões de almas, mas se se contarem também os miseráveis que vivem em barracas, nos subúrbios, o número sobe para 25 milhões. Aliás, mesmo fora das favelas, a generalidade das pessoas vive em bairros pobres (a que chamam “barrios”), em casas térreas e de construção rudimentar. São estas construções que marcam a arquitectura geral da cidade, localizada num vale entre montanhas, cujas encostas, aliás, têm vindo gradualmente a ser cobertas por favelas de casas de tijolos, cinzentas, tristes e miseráveis.
  Mas nem toda a cidade é assim. O centro histórico, à volta do Zócalo, ou praça da Constituição, é vivo e colorido. Aqui se encontram muitos dos edifícios mais antigos ainda restantes da antiga capital da Nova Espanha, do período colonial. E em geral estão bem preservados. Por isso, esta zona foi declarada património Mundial, pela Unesco.
O Zócalo é o local onde tudo converge: está cá o palácio presidencial e a Catedral Metropolitana, como aqui esteve também, no seu tempo, o templo maior azteca.

 
Menos preservados, mas bem conservados na memória da maioria mestiça da população, estão os vestígios aztecas da antiga capital dos mexica. A cidade foi arrasada pelo conquistador Hernan Cortez, em Agosto de 1521. Mais ainda, por cima dos seus escombros, decidiu o explorador espanhol construir a nova capital da Nova Espanha. Esta decisão, que pretendeu ter o significado político de varrer do mapa tudo o que havia do tempo anterior, teve consequências ainda hoje sofridas: a antiga Tenochtitlan, a capital azteca, estava construída numa ilha, rodeada de canais, que tiveram que ser arrasados também, para se construir por cima deles. Na Catedral Metropolitana sente-se consequência disso: a antiga zona de canal abateu, o chão inclinou e o edifício ficou assimétrico e tem que ser vigiado.

  Mas há uma outra cidade do México, moderna e rica, que vibra ao ritmo do tempo presente. Centra-se no Paseo de la Reforma, enorme boulevard arborizado e ladeado de arranha-céus de vidro e aço, modernos e em estado impecável. Por aqui há lojas de marcas internacionais, centros comerciais, hotéis, cafés de cadeias internacionais. Sentiu o viajante que esta avenida podia estar em qualquer das mais modernas e trendy cidades dos Estados Unidos ou da Europa, a não ser pela dimensão, que é para bastante maior.
Aliás, na cidade do México tudo é grande: há avenidas de até 60 quilómetros, que se reclamam como as maiores do mundo.

Há ainda a cidade do México pitoresca, da zona Rosa, onde as lojas estão abertas 24 horas por dia e há bares e restaurantes especificamente para homossexuais. Ou a zona comercial, a sul do Zócalo e da zona histórica. Aqui, a marca é de América Latina profunda. Compra-se e vende-se na rua, na porta das lojas, com o ruído, o cor e o buliço do novo mundo.
Esta a cidade do México que inspirou Frida Khalo e Diego Rivera. É também a que venera a Virgem de Guadalupe, cujo santuário, no limite norte da cidade, é local de peregrinação para crentes de toda a América latina – talvez por ter sido aqui o local de aparição da Virgem a Diego, um nativo que viria a ser o primeiro santo canonizado originário das Américas.
  Esta é também a cidade dos táxis em velhos Volkswagen Carocha, pintados de bordeau e dourado, sem banco no lugar da frente, ao lado do condutor, para que os passageiros possam entrar. Estes, não experimentou o viajante, porque lhe recomendaram que o não fizesse: é que os “gringos” (que são todos os não latino-americanos, portanto europeus incluídos) correm o risco de serem sequestrados ou violentados e assaltados pelos próprios taxistas.

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