Samoa, o Pacífico diferente

  No coração da Polinésia, as ilhas Samoa gostam de ostentar uma história que dizem ter 3 mil anos. Diz-se que, juntamente com Tonga, o país insular mais próximo, é aqui que está a origem de toda a civilização polinésia: foi aqui que se estabeleceram os povos pré-históricos que criaram a cultura polinésia e daqui se expandiram para todo o Pacífico: entre outros, para o Havai e para a Nova Zelândia (a cultura maori teve origem aqui).
  Esta cultura sedimentou-se muito, porque os europeus chegaram cá muito tarde: os primeiros, terão sido navegadores holandeses, que vinham à procura de baleias e que aportaram Samoa em 1722. Cem anos depois chegaram os primeiros missionários cristãos, que pouco tempo depois tinham evangelizado completamente as ilhas. Em termos políticos, Samoa foi governada pelos seus chefes tradicionais até 1899. Nessa data passou a ser um protectorado alemão e assim se manteve até à Iª Guerra, no decurso da qual passou para o domínio da Nova Zelândia, que governou as ilhas até à independência em 1962 – Samoa foi a primeira das modernas nações do Pacífico a conquistar a independência, no século XX.
  É um país fora de rota, muito longe da Europa, onde por isso é difícil ir (sem se perder pelo caminho, o viajante demorou 52 horas a chegar). Fica a 3000 mil quilómetros da Nova Zelândia, a sua antiga potência colonial e ainda hoje o seu grande parceiro externo, na política e nos negócios. Este isolamento tem dificultado movimentos migratórios para as ilhas – ao contrário, muitos samoanos procuram trabalho fora, sobretudo na Nova Zelândia. Por isso, ainda hoje a maioria da população é autóctone.
  Chegou o viajante às ilhas sem ter ainda a clara noção com que depois ficou de que a distância e o isolamento impediram a chagada a Samoa de muitas das comodidades do turismo moderno. Na verdade, este destino não é para aqueles para quem Pacífico Sul significa um hotel de 5 estrelas, com piscina em cima da praia, onde se servem bebidas com uma espécie de guarda-chuva dentro. Pelo contrário, em Samoa há muito poucos hotéis e todos eles de perfil modesto. Mesmo os melhores hotéis das ilhas não ombreiam com os padrões internacionais. Sentiu o viajante também falta de outras estruturas, para quem não for backpacker.
  Esta modéstia do país corresponde ao perfil da população. Muito poucos deixam de seguir os hábitos e as rotinas locais: a vida é muito descontraída, sem pressa e simples. Toda a gente usa roupa muito leve e havaianas. Mesmo! Até em ambiente de trabalho. Além disso, quase todos usam aquela espécie de saia, a meio caminho do pareo brasileiro, a que chamam lava-lava. Nota-se que gostam deste trajo insular e até fazem questão de o usar. E isso (notou-o bem o viajante), é transversal a toda a sociedade. Aliás, a sociedade é verdadeiramente uma sociedade sem classes e sem grandes fossos económicos, também.
Os samoanos são muito amigáveis. Percebe o viajante a sedução que terão sentido os marinheiros europeus do século XIX que andaram pelos mares do sul: as raparigas polinésias, apesar de não serem das mais graciosas nem das mais elegantes, são muito simpáticas. Na rua, ao cruzarem-se com estrangeiros, cumprimentam sempre e de muito boa vontade estabelecem diálogo.
 
Não obstante, esta sociedade isolada do Pacífico tem uma estrutura muito fortemente aldeã. Vive ainda hoje numa estrutura social e desenvolve um efectivo modo de vida muito tradicional. O governo diário destas comunidades é também feito da forma tradicional, que só é possível por o país ter apenas 180 mil habitantes. A base estrutural da vida é a família alargada, que se pretende que seja o maior possível, para ser mais poderosa no contexto da aldeia. Em Samoa há 362 aldeias e 18000 chefes de família alargada (aos quais cabe a tarefa de representar a família no conselho da aldeia que, por sua vez, gere esta). Note-se que há apenas uma década que os membros do parlamento deixaram de ser designados por estes conselhos de aldeia, para serem eleitos por sufrágio universal.
 Por outro lado, mais de 80 por cento dos samoanos são cristãos praticantes. Em cada aldeia há uma ou mais igrejas onde todos, sem excepção, vão à missa ao domingo de manhã. Observou o viajante que este ritual se cumpre com muito rigor, até na forma muito aperaltada como todos se vestem. E depois, é também tradicional haver um almoço familiar, rico e com muita comida – nessas alturas come-se taro, um vegetal que cozido parece batata, fruta-pão, outro vegetal que se come grelhado nas brasas, mas também pode ser cozido ou frito em rodelas, como se fossem batatas fritas e muitos pratos preparados com coco – reteve o viajante um atum fresco e cru, marinado em leite de coco, sumo de limão, pimentos e cebola

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