Os portugueses no Luxemburgo

“Ó Horácio: há limas?” Foi isto que o viajante teve como resposta à pergunta que fez, depois de entrar no Hotel La Ville de Bruxelles, em Vianden, nos confins das Ardenas, no Luxemburgo. Logo ao passar a porta de entrada, tinha visto na parede um papel manuscrito onde se dizia “há caipirinha”. Em português, pediu uma. E o seu cálculo não foi errado, porque logo de seguida a empregada de mesa, com claro sotaque do nordeste transmontano, fez a pergunta ao rapaz moreno e baixo, de t-shirt de mangas cavas, que estava por detrás do balcão.
E sim, havia limas. “Sabe”, explicou a rapariga, “estive de congée e só voltei hoje e por isso não sabia se havia”. O que também havia era sopa de cenoura, abóbora e couve galega – aliás bastante melhor que a caipirinha. E só mais tarde o viajante reparou que na porta do bar estava pendurada uma bandeira portuguesa e que a ementa era bilingue: em português e francês. E também que a ementa era verdadeiramente de cozinha de fusão, com grande densidade de specialités portuguaises. Já depois de sair ficou com pena de não ter provado o croque monsieur de salpicão.

 Já ocorreram ao viajante várias outras histórias deste teor, quando tem passado pelo Luxemburgo. Foi o Café Chaves, na estrada de saída da cidade do Luxemburgo para o norte, ou o restaurante Bom Petisco II – Chez Cândido e Cristina, em Echternach. Ou ainda o anúncio que dizia haver “castanhas de Carrazedo de Montenegro” no Mini-Market de Bereldange. É bem sabido que neste pequeno país do centro da Europa, cerca de 100 mil dos 400 mil habitantes são portugueses ou descendentes de portugueses. Há muitas associações e colectividades lusas que, mais intensamente que em qualquer outro destino da diáspora, mantém vivos os laços a Portugal.
Mas nalguns casos vão mesmo mais longe: estão mesmo a mudar a face e a alma do Luxemburgo: não esquece o viajante Clervaux, no norte, encostada às Ardenas; nesta graciosa vilória, na tranquilidade de um domingo de manhã, ouviu o viajante o carrilhão da igreja a dar as horas e, não sem espanto, reconheceu a treze de Maio, na Cova da Iria...

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