Prizren, Kosovo

O Kosovo, cenário de uma das mais recentes e bárbaras guerras em território europeu, não é um destino turístico. Provavelmente, não o será nunca: não tem praias nem modernas estâncias de montanha, não tem cidades vibrantes nem grandes marcos de interesse histórico, cultural ou artístico. Além disso, o recente país (que se declarou independente da Sérvia, oficialmente, apenas em 2008), apesar de ter uma paisagem natural bonita, dominada por montanhas que têm neve até muito tarde na primavera, está completamente desfigurado por uma ocupação humana desregrada e errática. E também, ainda, pelas cicatrizes da guerra de 1999 (de extrema violência dos sérvios sobre os kosovares albaneses) e pelos conflitos étnicos de 2004 (de vandalização de tudo, pessoas e propriedades, sérvias, pelos kosovares albaneses).
Teve por isso o viajante uma grande e agradável surpresa, ao passar por Prizren, talvez a segunda cidade do país (a maior a seguir a Pristina) a 50 quilómetros a sul da capital e a apenas uma dezena da fronteira da Albânia. Dizem os guias turísticos que, em séculos que já lá vão, Prizren foi a capital da antiga Sérvia, mas os kosovares albaneses não gostam da ideia. Além disso, era também a cidade natal de Josip Broz Tito, o antigo presidente da Jugoslávia socialista, que sonhou alargar o domínio da grande Sérvia a todos os Balcãs. Estes, aliás, são dois dos espinhos que muito magoam a Sérvia e a impedem de reconhecer o estatuto do Kosovo como Estado independente.
Talvez por isso, foi particularmente intensa a opressão que o exército e a polícia sérvia fizeram nesta região aos kosovares albaneses, em anos idos. Contava ao viajante um amigo que viveu aqui desde sempre que, em 1999, os sérvios ocuparam militarmente a cidade com tal brutalidade que os kosovares albaneses, em êxodo, preferiram abandonar a região e fugir para a Albânia – foi a época em que a NATO bombardeou o Kosovo (e também Prizren), até que a Sérvia abandonou o território. No regresso, os habitantes da zona encontraram verdadeiramente terra queimada.
Arrumadas na memória e na história e superadas todas estas questões, conseguiu o viajante ver em Prizren uma cidade agitada, com muita gente a animar as ruas – sobretudo gente mais nova. É também uma cidade de fusão de culturas: a estrutura da cidade é turca, com casas baixas e lojas, como num bazar mas, quase ao lado umas das outras, há igrejas ortodoxas, igrejas católicas e mesquitas. É talvez, dominante, a indelével marca turca: há um grande número de mesquitas, com os característicos minaretes em forma de lápis, seguindo o modelo turco. Conserva-se em lugar muito central o edifícios dos banhos turcos, os banhos Gazi Mehmen Pasha.
Gostou o viajante da atmosfera da terra: ao longo do rio que a atravessa há ruas movimentadas, que desembocam na mesquita Sinan Pasha, por sua vez fronteira de uma igreja ortodoxa. É a praça Shadrvan, com um ambiente de alguma evocação histórica – a ela confluem muitas ruas estreitas e pedonais, de piso empedrado. Há muitas casas antigas, com madeiramentos ricos, em estilo turco. Misturadas com elas, lojas modernaças, com néon e cores vivas, a procurar insistentemente alinhar pelo chamado estilo ocidental.
Claramente, Prizren foi o sítio mais interessante que o viajante encontrou no Kosovo. Fica a uma hora de carro de Pristina, por estradas que estão em melhoramento. Está mesmo em construção uma auto-estrada.

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