Pristina, Kosovo

 
O Kosovo não é, certamente, um destino turístico preferencial. Os viajantes que aqui passam, se vêm para visitar o país, é porque gostam, com certeza, de fugir dos trilhos habituais. Porém, apesar de não passarem por aqui muitos turistas, circulam pelo país muitos estrangeiros, das mais diversas origem: militares de todo o mundo, integrantes da força militar da ONU (os capacetes azuis da KFOR) e funcionários de agências internacionais, que aqui se instalaram para apoiar a reconstrução do Kosovo, após a guerra de 1999.

 
Os estrangeiros são agora menos do que eram em 2006, quando por aqui passou o viajante pela primeira vez. Nessa altura, sentia-se uma num país saído de um conflito militar, a limpar os escombros das bombas e à procura de ar fresco para respirar, entre a pressão das agências que administravam a ajuda internacional, omnipresentes, e as forças coercivas internacionais, igualmente omnipresentes.

 
Sentiu-se o viajante numa colónia, onde os colonos, que falavam estrangeiro e tinham muito dinheiro, criavam à população local a necessidade de responder a solicitações, ao mesmo tempo que criavam a oportunidade de negócio que essas solicitações representavam. Mais recentemente, encontrou o viajante um país maior, já emancipado. As oportunidades foram aproveitadas e já não se percebe tanta fragilidade no tecido económico do país. Pristina é uma cidade ativa, apesar do seu ar provinciano. Circulam pela cidade muitos camponeses e habitantes de pequenas cidades dos arredores, que aqui vêm vender coisas.

 
Dos escombros da guerra, os habitantes locais têm procurado reconstruir um país, copiando e cultivando o aspeto “ocidentalizado” e internacional. Assim acontece quanto à forma como se comportam e com a sua roupa, com o aspeto dos edifícios ou das lojas, que alinham pelos parâmetros globais, de coca-cola e macdonals (por sinal, o Kosovo foi daqueles poucos raros locais onde o viajante não encontrou McDonald’s – na vizinha Macedónia havia um, mas falso, contrafeito).

 
Um dos ícones mais fotografados da nova capital deste país que unilateralmente se declarou independente é um \enorme conjunto de letras, em frente do Palácio dos Desportos construído no tempo da Jugoslávia, a formar a palavra “NEWBORN”. Foram aqui colocadas aquando da independência, para celebrar o nascimento do Kosovo independente e sublinhar a sua identidade nacional, que aliás se vê reafirmada em muitos outros sítios. No entanto, é curioso que em muitas casas e pequenas oficinas ainda predomina a bandeira albanesa, como acontecia no passado.

 
Mas Pristina é também uma cidade agitada. Como em qualquer outra paragem do sul da Europa, ao fim da tarde, as ruas mais centrais enchem-se de miudagem animada que volta das escolas e de gente adulta que volta do trabalho. Na avenida Madre Teresa, que em parte é pedonal, há muitas lojas e quiosques. Sinal dos tempos, viu o viajante numa banca de livros uma compilação, em albanês, de anedotas sobre o antigo presidente e ditador Josip Tito. Percebe-se que, em geral, quem anda pelas ruas está muito preocupado com o seu aspeto. Mas respira-se ambiente de bairro de subúrbio, sem sofisticação. Abundam os automóveis alterados, de escapes ruidosos e pinturas originais, circulando com a música muito alta.

 
A capital do Kosovo, com os seus 200 mil habitantes, não é propriamente uma cidade turística: tem duas ou três referências nos guias: algumas mesquitas antigas, uma ou duas igrejas ortodoxas (estava em construção uma nova catedral católica), um pequeno museu sobre a história local e dois ou três edifícios do tempo do regime jugoslavo socialista (em particular o estranho edifício de cobertura de redes metálicas da Biblioteca da Universidade). É daqueles sítios que não se visitaria se não houvesse uma outra razão, que não a visita à cidade, para o fazer. Além disso, fica fora de mão e é servida por muito poucas companhias de aviação.


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