Mensagens

Capela do Monte, Barão de São João, Algarve

Imagem
Acredita o viajante que os grandes génios se manifestam, mais do que em grandes obras, em pequenos nadas. E viu esta convicção reforçada na visita à Capela do Monte, uma singela e inusitada construção, ali para os lados de Lagos, no Algarve. É um edifício muito pequeno, que alberga muito poucas pessoas. Quando muito, umas dezenas – escassas. Aliás, tem apenas pouco mais de uma dúzia de lugares sentados. Mas a sua dimensão maior está em tudo o que lá está construído ou instalado. Tudo foi muito bem pensado e realizado. Vê-se que nada foi desleixado ou fruto do acaso. Há sentido e significado em todos os pormenores, o que ainda se valoriza mais num edifício religioso. O espanto está no facto de esta capela ter sido projetada por Álvaro Siza Vieira, agnóstico. Bem recorda o viajante uma mesma fantástica experiência, na visita à célebre Catedral Metropolitana de Brasília, projetada por Óscar Niemeyer, que era igualmente ateu e comunista. Apenas se pode chegar a pé, por um caminho de

Pristina, Kosovo

Imagem
  O Kosovo não é, certamente, um destino turístico preferencial. Os viajantes que aqui passam, se vêm para visitar o país, é porque gostam, com certeza, de fugir dos trilhos habituais. Porém, apesar de não passarem por aqui muitos turistas, circulam pelo país muitos estrangeiros, das mais diversas origem: militares de todo o mundo, integrantes da força militar da ONU (os capacetes azuis da KFOR) e funcionários de agências internacionais, que aqui se instalaram para apoiar a reconstrução do Kosovo, após a guerra de 1999.   Os estrangeiros são agora menos do que eram em 2006, quando por aqui passou o viajante pela primeira vez. Nessa altura, sentia-se uma num país saído de um conflito militar, a limpar os escombros das bombas e à procura de ar fresco para respirar, entre a pressão das agências que administravam a ajuda internacional, omnipresentes, e as forças coercivas internacionais, igualmente omnipresentes.   Sentiu-se o viajante numa colónia, onde os colonos, que

Liubliana, Eslovénia

Imagem
Chegou o viajante a Liubliana com uma grande expetativa, criada pelas múltiplas chamadas de atenção que os media têm feitos para esta cidade dos Alpes do sul, a caminho do Adriático. Não é que tenha regressado desapontado, mas também não trouxe da pequena capital eslovena a excitação que encontrou noutros lugares. Esta novel capital é, talvez, em todo o caso, a mais bonita de todas as que emergiram no universo da antiga Jugoslávia – Belgrado será um caso à parte. É uma cidade aconchegada, percorrível a pé, com uma zona antiga, de raiz medieval, separada pelo pequeno rio Ljubljanica da zona mais moderna de traça urbana germânica. A capital da Eslovénia é uma cidade pequena e caseira, com a qual rapidamente nos sentimos familiares. Aterrou o viajante no aeroporto da capital, encaixado no verde e branco das montanhas calcárias, a fazer lembrar os aeródromos dos livros do Tintim. Não tinha plano de transfer para a cidade e já era noite. Mesmo sendo fim-de-semana, não foi difícil arra

Castelo de Noudar, Barrancos, Portugal

Imagem
  Já há poucos paraísos destes em Portugal. Noudar é daqueles sítios onde o viajante sentiu estar num lugar distante, sem stress nem poluição, onde ainda é possível gozar de alguma quietude, na serenidade campestre. O castelo fica longe e o acesso é difícil. A distância têm-no preservado das hordas de turistas e outros visitantes domingueiros que vão invadindo os highlights do Alentejo, como que colecionando cromos. Barrancos, em si mesmo, é já um enclave, encaixado dentro da linha de fronteira com Espanha. Aliás, os seus ícones locais são meio-andaluzes: touradas de morte e produtos derivados do porco preto. É também o município com menos população em Portugal (apenas 1800 habitantes), se não se considerar o município do Corvo, nos Açores (que tem somente 430 habitantes). Chegar ao castelo de Noudar, a partir de Barrancos, ainda supõe percorrer cerca de mais 10 quilómetros de estrada rural, nem sempre pavimentada, atravessando montados de azinheiras e um que outro sobreiro o

Da Casa Branca a Cuba, de comboio

Imagem
  Calhou ao viajante ter que ir, num destes tórridos dias de Julho, a Beja. Na previsão do tempo, viu estarem anunciados 38 graus, mas depois os termómetros acabaram por atingir 41. Coisa normal para o verão em Beja. Mas não é este o tema desta crónica. É que decidiu o viajante ir de comboio, que os tempos estão de crise e os combustíveis e portagens a preços incomportáveis. E teve boas e más surpresas: boas, porque os comboios funcionam bem, a horas (apesar de haver poucos), sem congestionamento. Más, porque esses mesmos comboios são pouco amigáveis e dão pouca atenção a quem os usa. Comboios sem bar ou, sequer, uma mísera máquina para comprar água. Estações desertas e sem serviço algum. Ficou o viajante com a memória na estação da Casa Branca, onde é necessário fazer o transbordo, deixando o confortável Intercidades de Évora para passar ao regional de Beja. Deserta, tórrida (e há-se ser gélida no inverno). Nem uma sombra, nem um bar onde beber algo fresco.   E também fico

Monsaraz, Alentejo

Imagem
Será o responsável por esta placa, porventura, admirador de automóveis? Na dúvida, não avançou o viajante, porque a sua viatura, nem de perto nem de longe, se pode apelidar de “bela máquina”.

Lisboa, 23 de Junho de 2013

Imagem
  Os jornais falavam de um interessante fenómeno astronómico, que apenas voltará a ocorrer dentro de 18 anos. Como o sabes, leitor, continua o viajante a emocionar-se com estes pequenos nadas; por isso, passou boa tarde do serão a viajar até à lua, sem sair da sua varanda citadina. Mas valeu a pena: a lua nasceu enorme e brilhante, como nos filmes de vampiros. Primeiro, apareceu baça, rechonchuda e alaranjada como um gigantesco queijo holandês; depois, tornou-se prateada e luminosa, subindo no céu e espalhando um intenso jorro de luz.   O fenómeno é simples de explicar: por um lado, foi noite de lua cheia no dia do calendário a que corresponde menor período noturno. Ou dito de outra forma, a lua cheia ocorreu na noite mais curta do ano. Mas isso não é tudo nem o principal. É que a Lua descreve, em volta da Terra, uma rota elíptica, afastando-se e aproximando-se no nosso planeta. E esta lua cheia de 23 de Junho ocorreu num momento em que a Lua, por efeito da sua rota, atingiu o seu