Estive à porta. Não entrei; mas como leiga e pouco dada a coisas de bebidas bastou-me a fábrica da Guiness, pela qual troquei, ainda que por amor ao companheiro de viagem, a casa onde o Oscar Wilde passou a infância. Já lhe apresentei as desculpas em Père-Lachaise.
Já há poucos paraísos destes em Portugal. Noudar é daqueles sítios onde o viajante sentiu estar num lugar distante, sem stress nem poluição, onde ainda é possível gozar de alguma quietude, na serenidade campestre. O castelo fica longe e o acesso é difícil. A distância têm-no preservado das hordas de turistas e outros visitantes domingueiros que vão invadindo os highlights do Alentejo, como que colecionando cromos. Barrancos, em si mesmo, é já um enclave, encaixado dentro da linha de fronteira com Espanha. Aliás, os seus ícones locais são meio-andaluzes: touradas de morte e produtos derivados do porco preto. É também o município com menos população em Portugal (apenas 1800 habitantes), se não se considerar o município do Corvo, nos Açores (que tem somente 430 habitantes). Chegar ao castelo de Noudar, a partir de Barrancos, ainda supõe percorrer cerca de mais 10 quilómetros de estrada rural, nem sempre pavimentada, atravessando montados de azinheiras e um que outro sobrei...
Acredita o viajante que os grandes génios se manifestam, mais do que em grandes obras, em pequenos nadas. E viu esta convicção reforçada na visita à Capela do Monte, uma singela e inusitada construção, ali para os lados de Lagos, no Algarve. É um edifício muito pequeno, que alberga muito poucas pessoas. Quando muito, umas dezenas – escassas. Aliás, tem apenas pouco mais de uma dúzia de lugares sentados. Mas a sua dimensão maior está em tudo o que lá está construído ou instalado. Tudo foi muito bem pensado e realizado. Vê-se que nada foi desleixado ou fruto do acaso. Há sentido e significado em todos os pormenores, o que ainda se valoriza mais num edifício religioso. O espanto está no facto de esta capela ter sido projetada por Álvaro Siza Vieira, agnóstico. Bem recorda o viajante uma mesma fantástica experiência, na visita à célebre Catedral Metropolitana de Brasília, projetada por Óscar Niemeyer, que era igualmente ateu e comunista. Apenas se pode chegar a pé, por um caminho de ...
Será o responsável por esta placa, porventura, admirador de automóveis? Na dúvida, não avançou o viajante, porque a sua viatura, nem de perto nem de longe, se pode apelidar de “bela máquina”.
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