Moscovo

Henri Cartier-Bresson, o mítico fotógrafo viajante francês do século XX, fundador (com Robert Capa), da Agência Magnum, em Nova Iorque, percorreu a URSS na década de 1950, altura em que muito poucos cidadãos de países ocidentais logravam tal façanha. Quando chegou, de comboio, a Moscovo, ficou extasiado pela dimensão da cidade. Registou nas suas anotações que se sentiu como um campónio que chegou à cidade.
De certa forma, também assim se sentiu o viajante, ao chegar à maior cidade da Europa – no início do século XXI, Moscovo terá cerca de 10 milhões de habitantes). Mas a grandeza da cidade não é de agora. Esta cidade gigantesca foi capital da Rússia desde a Idade Média até que o Czar Pedro o Grande a transferiu para São Petersburgo, no início do século XVIII. Voltou a ser de novo capital após a revolução bolchevique, de 1917.

Nela anotou o viajante a rede de metro gigantesca mas muito eficaz e a imensa teia de aranha de vias rodoviárias, que percorrem a zona urbana e os subúrbios. Por todo o lado se encontram zonas arborizadas, a separar os bairros. Estes bairros, ainda herdados do regime comunista, são todos imensos, muito cinzentos e todos iguais uns aos outros. Percebe-se que até há 20 anos eram dormitórios sem vida nem actividade. É curioso como após a implantação da economia de mercado, nas zonas de passagem de pessoas, por exemplo, junto das saídas do metro, surgiram pequenas lojas improvisadas que vendem bens de primeira necessidade. Será, talvez, a forma como a cidade supre a falta de comércio de bairro estruturado.

Faltaram ao viajante os cafés e bares (apenas encontrou barracas na rua com o nome de café) e lamentou que todos os restaurantes estejam no centro e sejam muito caros.De facto, parece que são uma das inovações do capitalismo que a população russa ainda não pode pagar: aqueles que querem beber uma cerveja, compram a lata numa dessa barracas e bebem na rua. Também só há táxis no centro. Em alternativa aos transportes públicos é por isso muito frequente ver pessoas nos passeios, na beira da estrada, a pedir boleia – o sistema supõe que quem vá de boleia pague uma pequena quantia ao condutor, acordada antes de entrar no veículo.

Na rua, as pessoas são taciturnas e não sorriem nem falam, a não ser que seja necessário. Não se cumprimentam quando se dirigem a outras – para comprar coisas, por exemplo; também não desejam bom dia nem agradecem nada, por rotina; dizem apenas o indispensável. Do outro lado de Moscovo estão os novos-ricos, herdeiros por processos pouco claros da nomenklatura do regime soviético.

Comentários

Anónimo disse…
Os russos são, de fato, taciturnos e não sorriem nem falam, a não ser que seja necessário?

Pensei que fosse um povo alegre em relação aos vizinhos.

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