Kiev, cidade vibrante

 A capital da Ucrânia já foi uma cidade soviética modelo. No centro urbano abundavam conservadoríssimos e monumentais edifícios públicos, todos restaurados após a IIª Guerra Mundial. Ali havia também edifícios novos, no chamado estilo estalinista, muito neoclássico, em pedra rendilhada. Mas também eram tipicamente estalinistas alguns modernaços edifícios de vidro e aço, no pior gosto dos anos 70, condizentes com outros frutos da época, como os colarinhos compridos, as longas bigodaças ou as calças de boca-de-sino. Portanto, o centro de Kiev era feio, nessa época.
 Depois, na periferia havia bairros gigantescos, com incontáveis prédios onde vivia o proletariado urbano: edifícios muito pouco engraçados e de má construção, todos iguais (para serem igualitários, claro) em bairros todos iguais, a quilómetros uns dos outros e a ainda mais quilómetros do centro. Tudo, em obediência ao planeamento.
 Hoje em dia, a par destas velhas realidades, surgem edifícios de escritórios e centros comerciais, de vidro e aço, decorados com coloridos néones que por todo o lado marcam as longas noites. As outrora amplas avenidas de majestáticos edifícios estalinistas tornaram-se pequenas para escoarem o trânsito de um dos parques automóveis mais luxuosos da Europa. Na rua, onde antes havia medo e discreto cinzentismo, há agora gente elegante e bem vestida, orgulhosa da sua liberdade, que exerce exuberantemente.
 Iguais, permanecem os imensos parques arborizados de Kiev, talvez o mais importante legado do período soviético dos comunistas à cidade. Sobretudo ao longo do rio Dnipro (Dnieper em russo), estende-se um dos maiores parques urbanos que o viajante conhece, se não o maior. Fica entre o mosteiro de São Miguel, no coração da cidade e o mosteiro de Pechersk-Lavra. Ao longo dele sucedem-se monumentos, memoriais, pracetas (incluindo a do Parlamento Nacional – o Verkhovna Rada) e, sobretudo, muitos quiosques onde se vendem bebidas e comida ligeira. Calhou ter o viajante passado por aqui em dia de bom tempo e surpreendeu-o a enorme quantidade de pessoas que passeavam ou apenas descansavam.
 Noutra perspectiva, Kiev é a cidade das máfias, com ligações a oligarcas do antigo regime. Esta gente circula pelo trânsito em automóveis de luxo, conduzidos por guarda-costas privados e espalham o seu controlo por todo o tecido social. Apesar disso, diz-se que apenas 60% dos juízes são corruptos, o que é um bom score, se comparado com os 80% dos restantes funcionários públicos ou com os 90% dos professores, que exigem subornos para dar notas altas. Diz-se, claro, mas não se sabe ao certo…
Portanto, Kiev reinventa-se sobre a herança do passado e não será por acaso que tantos ucranianos abandonam o país, até para Portugal, em busca de uma vida mais tranquila.
Mas também se reinventa procurando as suas raízes na antiga Ucrânia, profundamente cristã e ortodoxa. Será talvez por isso que Kiev é hoje a cidade das igrejas e dos mosteiros. Foi aqui que o viajante encontrou dos mais impressionantes templos ortodoxos que se conhecem. Neste vertente, a visita Kiev vale a pena pelo conjunto do mosteiro de São Miguel, pelo lindíssimo conjunto da igreja de Santa Sofia, no cento histórico da cidade e, sobretudo, pelo mosteiro de Pechersk-Lavra.

Comentários

Anónimo disse…
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