Centro Memorial do Holocausto dos Judeus da Macedónia, Skopje

 
A palavra “macedónia” é usada em francês e em espanhol para designar aquilo que em português chamamos salada de frutas ou, também, salada russa – no fundo, uma desorganização harmoniosa de pequenos pedaços de alimentos de vários tipos, que em conjunto formam um prato. A parábola é excelente. Na verdade, o povo que ocupa o país dos Balcãs que hoje em dia conhecemos como Macedónia é o resultado da fusão de uma grande sucessão de povos que, ao longo de vários milénios de história, desde o tempo em que o rei Filipe, pai de Alexandre, que veio a ser O Grande, consolidou aqui um reino independente da restante Grécia. Neste território passaram assim gentes de todos os quadrantes, etnias e crenças que se foram fixando. Actualmente, por imposição da diplomacia grega, que reclama para uma parte do seu território esta histórica denominação oficial, nas instâncias internacionais o nome do país é FYROM – acrónimo em inglês de Antiga República Jugoslava da Macedónia.

 
Talvez tenha sido este ambiente de descontraída fusão que atraiu para aqui, após o fim da idade média (por obra de D. Manuel em Portugal e dos reis católicos, em Espanha, em 1492) o fluxo migratório de judeus sefarditas, que foram expulsos da Península Ibérica e que tiveram que procurar outras paragens para se estabelecer. É bem conhecida a migração judaica portuguesa para a Holanda. Menos conhecida mas não menos importante, foi esta deslocação para os Balcãs. A partir do século XVI formou-se na Macedónia uma grande comunidade judaica, toda ela com origem nas populações expulsas da Península Ibérica.
  Esta comunidade floresceu e foi muito importante no contexto da região. E foi sempre bem tolerada pelos vários impérios dominantes. Em particular, foi bem aceite pelo império turco otomano, que sempre conviveu bem com outras religiões – anotou o viajante que em Skopje, capital da Macedónia, coexistem mesquitas e igrejas, todas elas do tempo da ocupação turca. Ambas as crenças vivam em paz com a outra se nenhuma igreja fosse mais alta que qualquer mesquita (essa é a razão pela qual algumas igrejas foram construídas um pouco enterradas no chão).
 
Bem sentiu o viajante esta “macedónia” de povos pelas ruas de Skopje, vendo passar gente alta e baixa, morena e mais clara, oriental e ocidental. Mas o local que mais lhe revelou este cadinho de culturas foi o Centro Memorial do Holocausto do Judeus da Macedónia. Não esperava o viajante encontrar, na pequena capital de um país com 2 milhões de habitantes, uma exposição permanente tão interessante e incisiva sobre a diáspora dos sefarditas peninsulares, desde que saíram da Península até ao quase extermínio pelos nazis, durante a Segunda Guerra Mundial. Tocou-o toda esta história, de vários séculos, de tolerância com os judeus da diáspora – ainda mais, tendo esta comunidade tido origem em sefarditas expulsos da Península Ibérica.
O que, talvez, impressionou mais o viajante foi a preservação que estas gentes fizeram da cultura peninsular: mantiveram usos e costumes ibéricos e mantiveram, entre si, o ladino, a língua que usavam entre nós até ao século XVI.

 O “Sentro Memorial del Holocausto de los Djudios de la Makedonia” foi criado em 2005, mas o seu edifício apenas ficou concluído e abriu ao público em 2011. Fica num edifício modernaço, de vidro e pedra (não se poderá dizer que seja de muito bom gosto…), entre o centro histórico de Skopje e o rio Vardar, próximo da célebre Ponte de Pedra (Kameni Most). Tem entrada livre

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