Pirâmides de Gizé, Egipto

Quando chegou a Gizé, no limite urbano do Cairo, levava o viajante alguma emoção. Recordava, a propósito, as palavras que se diz Napoleão ter dito aos seus soldados, quando aqui chegaram, no fim do século XVIII: “daqui do alto, quarenta e cinco séculos vos contemplam!”.

No entanto, não conseguiu o viajante encontrar no lugar a magia que esperava descobrir. Desde logo, a zona das pirâmides fica no limite do perímetro urbano desta megalópole de 20 milhões de habitantes, a cerca de 12 km do centro. A viagem para aqui chegar, sempre algo duradoura, pelo inevitável e caótico trânsito, deixa profundas notas de suburbanidade e de miséria do terceiro mundo. Depois, toda a visita é indelevelmente marcada pela constante e muito maçadora presença de vendedores de souvenirs, de tratadores de cavalos e camelos que querem impingir passeios pelo deserto, ou ainda de outros habitantes locais que insistem em servir de guias às ruínas.
Não é fácil esquecer estes assaltos e recordar que estes edifícios funerários, que tinham em vista preservar o corpo embalsamado do defunto faraó nelas sepultado, foram construídos 26 séculos antes de Cristo. Nessa época, ainda não tinha despontado em Portugal a cultura castreja, estando ainda a uma distância de dois mil anos a fundação do império romano. Não obstante, a grande pirâmide de Gizé é ainda hoje o maior edifício em pedra jamais construído pelo homem. Esta pirâmide, destinada a ser a sepultura do faraó Khufu, tinha na sua origem 146 metros de altura (actualmente, o topo está um pouco danificado e por isso é menos alta). Na sua construção foram usados 2,3 milhões de blocos de pedra (cada um deles pesando duas toneladas e meia), trazidos de barco, do Alto Egipto pelo rio Nilo.

Heródoto, o grego conhecido como pai da história, visitou estas pirâmides, já na altura consideradas velhíssimas antiguidades, há cerca de 2500 anos, tal como fez com boa parte dos vestígios de cidades do Egipto antigo que hoje em dia se conhecem. E já nessa altura, portanto cinco séculos antes do nascimento de Cristo, considerou as pirâmides um monumento histórico de referência. De tal forma que por ele foram consideradas uma das sete maravilhas do mundo antigo. São aliás, das sete, a única que ainda sobrevive. Anotou o viajante que até 1889, data da construção da torre Eiffel, em Paris, a grande pirâmide foi também o mais alto edifício do mundo. Foi Heródoto quem referiu que a sua construção demorou 20 anos e empregou 100.000 trabalhadores. À grande pirâmide chamou pirâmide de Quéops (e não de Khufu, como lhe chamavam os egípcios) e às outras duas pirâmides de Quéfren e Miquerinos (e não Khafré e Menkauré, que eram os nomes dos respectivos faraós, em egípcio antigo).

Próximo do conjunto das três pirâmides há varias outras, de dimensão bastante menor. Destinavam-se a servir de sepultura às esposas dos faraós. Estão bastante menos conservadas. Um pouco ao lado, em plano inferior, encontra-se a esfinge de Gizé, um dos mais fotografados e fotogénicos monumentos do mundo. A esfinge é uma colossal estátua com corpo de leão e cabeça humana, que se supõe ter sido feita para guardar o túmulo de Quéops, ou Khufu, interpondo-se entre a sua pirâmide e o vale do Nilo. Está muito degradada porque foi esculpida numa só peça rochosa. E sofreu muita erosão.
A entrada na área custa 60 libras egípcias – cerca de 8 €, mas a entrada no recinto da esfinge, tal como a descida à câmara da pirâmide de Khufu supõem o pagamento de bilhetes especiais.
Gizé é facilmente atingível a partir do Cairo, de táxi, já que não existe nenhum ou outro qualquer meio de transporte colectivo que um estrangeiro possa usar com sucesso e eficácia. O recinto abre muito cedo, logo pelas 8 horas, mas fecha igualmente cedo, pelas 17 horas (os guardas egípcios gostam de cumprir o horário do encerramento, tratando de o executar, literalmente expulsando os visitantes, meia hora antes da hora de fecho).

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